Pela primeira vez em nosso país um julgamento de feminicídio, julgado em júri popular, chega à qualificação do homicídio como “etnocídio”. Significa que o assassinato de Daiane Kaingang não foi apenas por discriminação de gênero, mas porque a sua condição de indígena levou o assassino Dieison Zandavalli a escolhê-la para estuprar, estrangular e matar, e abandonar seu corpo para ser comido por animais em meio de uma lavoura, por ser uma adolescente indígena.
Esse julgamento ocorreu em Coronel Bicaco, interior do Rio Grande do Sul, nas últimas quinta e sexta-feiras, quando por 21 horas se analisou este bárbaro crime, enquanto mulheres indígenas do GT Guarita pela Vida realizavam seguidas manifestações, ao lado do Levante Feminista e outros movimentos, demonstrando sua indignação.
A decisão do juri, composto por quatro mulheres e três homens, criou um novo marco jurídico no enfrentamento à violência e ao feminicídio. Resulta da intensa mobilização que se formou desde 4 de agosto de 2021, quando o corpo de Daiane foi encontrado destroçado, sendo comido por urubus.
Como dizem as mulheres kaingang, Daiane não voltará, descansa na sua ancestralidade, mas nossa luta continua para que nenhuma mulher ou menina indígena seja morta por ser mulher ou indígena.