Julgamento será na quinta-feira, 13, na comarca de Coronel Bicaco (RS). Nesta segunda-feira, 10, ocorre audiência pública online com parlamentares e movimentos
Julgamento será na quinta-feira, 13, na comarca de Coronel Bicaco (RS). Nesta segunda-feira, 10, ocorre audiência pública online com parlamentares e movimentos
No dia 4 de agosto de 2021, o corpo da jovem indígena kaingang, Daiane Griá Sales, de 14 anos, foi encontrado nu e dilacerado, próximo à Terra Indígena Guarita, no município de Redentora (RS). Tratado inicialmente como um homicídio comum, o feminicídio da jovem vai a júri popular na próxima quinta-feira (13), na comarca de Coronel Bicaco, interior do Rio Grande do Sul.
Uma agenda de mobilização será realizada antes e durante o julgamento, em parceria com diversas instituições.
Audiência pública
Nesta segunda-feira, 10, às 19 horas, ocorrerá uma audiência pública online com a participação de deputadas e deputados federais, indígenas e não indígenas – Juliana Cardoso (SP), Celia Xakriabá (MG), Paulo Guedes, (MG) Maria do Rosário (RS), Dionilso Marcon (RS) e da deputada estadual Stela Farias, além da presidenta da Funai, Joênia Wapichana e do advogado Bira Teixeira.
Esta reunião foi organizada pelo Comitê Por Todas Daianes, composto pelas mulheres do GT Guarita pela Vida, pela campanha nacional Levante Feminista Contra o Feminicídio e pela Articulação Nacional de Mulheres Indígenas da Ancestralidade (Anmiga), Força Tarefa de Combate aos Feminicídios do RS e outras entidades.
Histórico do feminicídio
O corpo da adolescente, com marcas de estupro, estrangulamento e dilacerado da cintura para baixo, foi encontrado quatro dias após o seu desaparecimento, em uma lavoura na localidade de Linha Ferraz, interior do município de Redentora.
Daiane foi vista com vida pela última vez na madrugada de 1º de agosto de 2021, numa festa ao ar livre, na Vila São João, no interior de Redentora, local próximo à comunidade indígena do Setor Missão, pertencente à Reserva Indígena do Guarita.
Na ocasião, a jovem indígena Milena Jynhpó, amiga de Daiane, divulgou um vídeo denunciando a situação pela qual passam as mulheres indígenas. “Até quando teremos medo e insegurança em nossos territórios? (..) “Diariamente vivemos um sistema machista, cruel, brutal e assassino, precisamos de ajuda, estamos cansadas de ser invisíveis.”
Em 1º de outubro de 2021 após investigação da Polícia Civil, o Ministério Público denunciou Dieison Corrêa Zandavalli, um homem branco, agricultor, de 36 anos, por estupro de vulnerável e homicídio com seis qualificadoras (meio cruel, motivo torpe, dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima, para assegurar a ocultação de outro crime e feminicídio).
Movimento de resistência e justiça
Desde o crime de feminicídio, um movimento de solidariedade se organizou, como o Comitê Por Todas Daianes – e um coletivo local – Guarita pela Vida, que se constitui num espaço de luta e resistência das mulheres indígenas. Para a coordenadora do GT Guarita pela Vida, Regina Goj-Tej Emilio, trata-se de um caso simbólico. “Pela primeira vez conseguimos tirar um feminicídio indígena da invisibilidade e transformar também o luto em luta. Hoje, somos todas Daianes Kaingang”.
Vítimas de violência crescente e mais vulneráveis em diversos âmbitos sociais, mulheres indígenas e coletivos se articulam contra a violência sexual, o sexismo e o racismo em todo o país.
A Campanha nacional e estadual Levante Feminista Contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, composta por dezenas de coletivos no RS e cerca de dois mil integrantes em âmbito nacional, que acompanha passo a passo o desdobramento do crime, em parceria com a Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, têm respaldado os movimentos locais com notas, protestos, difusão e denúncia do caso inclusive em cortes internacionais.
Na mesma semana do assassinato de Daiane, Raissa da Silva Cabreiara, uma criança guarani kaiowá de 11 anos, foi morta na Reserva Indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul, após um estupro coletivo seguido de morte. Ela foi jogada de um penhasco em uma pedreira por continuar gritando.
Maior reserva indígena do RS
A Guarita é a maior reserva indígena do Rio Grande do Sul, com 24 mil hectares e abriga uma população estimada em 7 mil pessoas. A localidade é dividida em 18 setores – 16 ocupados por indígenas da etnia kaingang e dois pela população guarani. Entre as lideranças que representam os setores, nenhuma mulher, demonstrou o levantamento realizado na época pelo site Sul21.
Programação
10 de fevereiro – Audiência Pública Nacional, com a participação de parlamentares federais e estaduais, lideranças políticas e movimentos indígenas e de mulheres. O objetivo é obter maior institucionalidade à ação por Justiça, visibilidade e apoio à família de Daiane e à luta das mulheres indígenas contra a violência de gênero, interseccionada com a étnico-racial.
12 de fevereiro – Ações de mobilização locais, presenciais, com a ativa participação das mulheres organizadas local, regional e nacionalmente. (Tenente Portela e Coronel Bicaco).
13 de fevereiro (podendo se estender para 14/2) – Tribunal do Júri Popular que julgará o réu Dieison Corrêa Zandavalli pelo assassinato de Daiane Griá Sales.
Contatos para entrevistas
Regina Goj-Tej Emilio – (55) 99701-3327 (GT Guarita pela Vida) – Comitê Por Todas Daianes
Telia Negrão – (51) 981003878 (Levante Feminista) – Comitê Por Todas Daianes
Jozileia Kaingang – (49) 99165-5497 – Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga)
Bira Teixeira – Assistente de acusação do Ministério Público – (55) 99103-6287
FenajBR/Fijo – 20365